segunda-feira, 21 de julho de 2008

Cadê o papel-carbono?

Outro dia tive saudade do papel-carbono. E tive saudade também do mimeógrafo a álcool. E tive saudade da velha máquina de escrever. E tive saudade de quando, no dizer de Rubem Braga, a geladeira era branca e o telefone era preto.
Os mais jovens nem sabem o que é papel-carbono ou mimeógrafo a álcool. Mas tive saudade deles, ou melhor, de um tempo em que eu não dependia eletronicamente de outros para fazer as mínimas tarefas. Uma torneira, por exemplo, era algo simples. Eu sabia abrir uma torneira e fazê-la jarrar água. Hoje tomar banho é uma peripécia tecnológica.Hoje até para tomer um elevador tenho que inserir um cartão eletrônico para ele se mover. Claro que tem o Google, essa enciclopédia no computador que facilita as pequisass( para quem não precisa ir fundo nos assuntos), mas muita coisa me intriga: por que cada aparelho de televisão de cada casa, de cada hotel tem um controle remoto diferente e a gente não consegue usá-los sem pedir socorro a alguém?
Olha, tanta tecnologia!...Mas além de não terem descoberto como curarr uma simples gripe, os elevedores dos hotéis ainda não chegaram a uma conclusão de como assinalar no mostrador que letra deve indicar a portaria.Será necessária uma medida provisória do presidente para uniformizar tal diversidade analfabética?
Outro dia, li que houve uma reunião em Baku, lá no Azerbaijão, congregando cérebros notáveis para decifrarem nosso presente e nosso futuro. Pois Jean Baudrillard * andou dizendo, com aquela facilidade que os franceses têm para fazer frases que parecem filosóficas, que o que caracteriza essa época que está vindo por aí é que o homem, leia-se corretamente homens e mulheres. ou seja, o ser humano, foi descartado pela máquina.( Isto a gente já sabe quando tente ligar para uma firma qualquer e uma voz eletrônica fica mandando a gente discar isto ou aquilo e volta tudo a zero e não obtemos a informação necessária.)
Deste modo estão se cumprindo dois vaticínios. O primeiro era de um vate mesmo - Vinícius de Moraes, que naquele poema "Dia da Criação" , fazendo considerações irônicas sobre o dia de "sábado" e os desígnios divinos, diz: " Na verdade, o homem não era necessário". É isto, já não somos necessários.
E a outra frase metida nessa encrenca é aquela da Bíblia, que dizia que o" sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado". Isso foi antigamente. Pois achávamos que a máquina havia sido feita para o homem, mas Baudrillard, as companhias aéreas e as telefônicas mais os servidores de informática nos convenceram que " o homem é que foi feito mpara a máquina". Ao telefone só se fala com máquinas, e algumas empresas - esses servidores de informática - nem seus telefones disponibilizam. Estou, por exemplo, há quatro meses tentanto falar com alguém no "hotmail" e lá não tem viv'alma, só fantasmas eletônicos sem rosto e sem voz.
Permita-me, eventual e concreto leitor, lhe fazer uma pergunta indiscreta. Quanto tempo diariamente você está gastando com e-mails? Quanto tempo para apagar o lixo e responder bobagens? Faça a conta, some. Vai ficar estarrecido.
Drummond certa vez escreveu: "Ao telefone perdeste muito tempo de semear". Ele é porque não conheceu a internet, que tanto quanto o celular, usada desregradamente é a grande sorvedora de tempo da pós-modernidade.
Poe estas e por outras é que estou pensando seriamente em voltar ás cartas, quem sabe ao pergaminho. E a primeira medida é reencontrar o papel-carbono.
Cadê meu papel-carbono?



*Filósofo francês, crítico da sociedade de consumo e um dos teóricos da pós-modernidade. Jean Baudrillard (1929-2007) publicou cerca de cinqüenta obras, entre elas A sociedade de consumo (1970) e Simulacros e simulação (1981). (N.E.)

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