sábado, 31 de julho de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

AMOR COMO EM CASA.

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

(Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio

do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde")



Carlos Walker: Modinha (Cecília Meireles)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

AMOR É SÍNTESE



Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...

Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.

HELP - Por uma vida sem tabaco

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Arnaldo Antunes - Envelhecer (com legenda)

CLARICE.

“Vou te fazer uma confissão: estou um pouco assustada. É que não
sei onde me levará esta minha liberdade. Não é arbitrária nem
libertina. Mas estou solta. Parece-me que pela primeira vez
estou sabendo das
coisas.A impressão é que só não vou mais até as
coisas para não me ultrapassar. Tenho certo medo de mim, não sou
de confiança, e desconfio do meu falso poder. Não dirijo nada.
Nem as minhas próprias palavras. Mas não é
triste: é humildade alegre.
Eu, que vivo de lado, sou a esquerda de quem entra. E estremece em mim
o mundo.”
Clarice

sexta-feira, 9 de julho de 2010

MIMOSA BOCA ERRANTE.

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.

Carlos Drummond de Andrade



segunda-feira, 5 de julho de 2010