domingo, 31 de outubro de 2010

ENTREGA

Os teus dedos seguem suaves

o contorno de meus lábios,

São o traço com que desenhas tua boca

na minha boca, neste beijo que

apenas invento na impalpável realidade

dessa noite quente.

Teu olhar é o lápis escuro

com que percorres meus olhos

Realçando as sombras dos teus cílios que

deitam sobre mim pequenos raios

de uma luz brilhante que me acolhe e abriga

No escuro dos teus cabelos,

deixo meus dedos perderem-se

E na floresta encantada de perfumes

e essências que me despertas

nossos cheiros se misturam.

Sinto o carvão cobrir minhas mãos,

dispersar-se pela cor bronzeada

do papel que é tua pele

Em meu pescoço deixas

resvalar os sentidos,

em cálidos, doces e úmidos beijos.

Em meus ombros

repousas tua face,

como se a me pedir um

embalar de sonhos sem fim.

Em meu peito soltas suavemente

tua língua, como pincel que

em tons suaves pinta a cor do meu corpo.

A palma suave das tuas mãos

inventadas no vento dos dias,

percorre ondulante o perfil da minha cintura

e dela sentes o calor e absorves a entrega.

Em meu ventre sossegas teu ouvido,

que no silêncio perdido,

escuta o estremecer urgente do prazer.

Intuis caminhos

Trilhas que pareciam perdidas,

te levam ao universo de meus desejos

Caminhas na ponta dos dedos, e

neles sentes os sinais que minha pele madura,

te oferece em sintonias de prazer

Esqueço o tempo, que deixou de passar

e em teus braços entrego-me,

para que me recebas e

na envolvência desta certeza, dou-te

todas as sensações e todas as emoções

dos sabores transgredidos.

Abro os olhos

e sobre o papel, o que foram riscos avulsos,

são agora traços difusos,

do universo de nossos desejos e ânsias.

Nada mais... Nada mais.

sábado, 30 de outubro de 2010

Oswaldo Montenegro - Metade

POEMA PRA QUE ENLOUQUEÇAS

Que meu poema chegue aos teus ouvidos
Com a fúria e persistência das ondas
Ante a arrogância dos rochedos

Que rasgue a pele da tua carcaça
E penetre teu corpo rígido
Como o primeiro raio da manhã

- Até arrancar de ti o gozo do entendimento -

Que torça teus sentimentos
Como roupa lavada
Pra que deles escoe tua verdade escondida
Em lágrimas salgadas de dignidade

Que espalhe palavras de amor
Em teu árido terreno
Verdejando de delicadeza
O campo minado de tuas defesas

Que as raízes e ramos das palavras
Desativem as bombas que escondeste
Pra explodirem sob meus passos de angústia

Que transforme dor em riso insano
Pra lembrares de tua loucura tão negada

Que arranque tuas vestes
E enudeça tua vergonha
Começando por desatar
o nó de tua gravata forca

E que essas mesmas raízes
Enrosquem-se no corpo de teus mortos
E os traga vivos à superfície
Pro derradeiro acerto de contas

Que enlouqueças um pouco com meu poema
Pra aprenderes a rir de teus valores torpes

Que meu poema te faça menino
E deboche de tua retórica vaidosa
Escorrendo entre teus dedos
qual sorvete derretido

Que meu poema te dê asas
E coragem pra voar
Derretendo o chumbo de tudo o que recalcaste

Que desça em tua garganta
Como calda de chocolate
Neutralizando o fel dos teus afetos tortos

Que meu poema seja bússola
Na escuridão de teus inúteis conceitos
Embaralhando as letras de teus livros de leis
reciclando-as em sonetos de amor

Que meu poema seja jangada
De volta a cada fim de tarde
trazendo sorrisos e alimento
Mas sobretudo
Trazendo-te de volta
Inebriado de poesia
E saudade

Que meu poema seja teu novo código de ética

(POEMA DE CADO SELBACH)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
...contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE In: Claro Enigma, p. 252-3

terça-feira, 26 de outubro de 2010

ALBERTO CAEIRO


II - O MEU OLHAR É NÍTIDO COMO UM GIRASSOL

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar ...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

In O Guardador de Rebanhos

domingo, 24 de outubro de 2010

BIBLIOTECA ONLINE FERNANDO PESSOA.

"Biblioteca online do Ferando Pessoa:todas as obras que integram a
biblioteca particular do escritor estao disponi'veis, na i'ntegra.
O espo'lio inclui 1142 livros e tambe'm manuscritos, ensaios e poemas,
anotados pelo pro'prio, nas pa'ginas dos livros."
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2233

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Valsa Brasileira - Chico Buarque

MONTEIRO LOBATO.


"Dizer coisas difíceis de explicar, mas

de maneira simples e sincera, é privilégio

dos que utilizam o sentimento como forma

de expressão. Monteiro Lobato era um desses.

(Abel De Jesus Requião)

"– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca.
A gente
nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de pi...scar chegou ao fim,
morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso.
É um dorme e
acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...]
A vida
das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso.
Um rosário de piscados.

Cada pisco é um dia.
Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda,
pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por
fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o
Visconde.
– Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"

Monteiro Lobato

terça-feira, 19 de outubro de 2010

'DECIR : HACER'

Entre lo que veo y digo ,
entre lo que digo y callo
entre lo que callo y sueño ,
entre lo que sueño y olvido ,
la poesía .

Se desliza
entre el sí y el no :
dice
lo que callo ,
calla
lo que digo ,
sueña
lo que olvido .

No es un decir :
es un hacer .

Es un hacer
que es un decir .

La poesía
se dice y se oye :
es real .

Y apenas digo
es real ,
se disipa .

¿ Así es más real ?
Idea palpable ,
palabra
impalpable :
la poesía
va y viene
entre lo que es
y lo que no es .

Teje reflejos
y los desteje .

La poesía
siembra ojos en la página ,
siembra palabras en los ojos .

Los ojos hablan ,
las palabras miran ,
las miradas piensan .

Oir
los pensamientos ,
ver
lo que decimos ,
tocar
el cuerpo de la idea .

Los ojos
se cierran ,
las palabras se abren .

Octavio Paz
(México)

CECÍLIA MEIRELES.

Teu bom pensamento longínquo me emociona.

Tu, que apenas me leste,

acreditaste em mim, e me entendeste profundamente.



Isso me consola dos que me viram,

a quem mostrei toda a minha alma,

e continuaram ignorantes de tudo que sou,

como se nunca me tivessem encontrado.”

Fevereiro, 1956



Cecília Meireles

In: Poesia Completa

Dispersos (1918-1964)


domingo, 17 de outubro de 2010

sábado, 2 de outubro de 2010