Procuro sinais de algum amor teu. Vestígios
de noites passadas. Tu não me vês, estou
incógnito a te observar. Como sempre estive,
olhando pelas janelas, de longe, coração apertado.
Nós poderíamos ser amigos e trocar confidências.
Assistiríamos a filmes, taça de vinho nas mãos, e
tu me detalharias as tuas paixões e desatinos. Nós
poderíamos ser amantes que bebem champanhe
pela manhã aos beijos num hotel em Paris.
Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia
atenta, numa tentativa indisfarçável de gravar o
momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias.
Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas
com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas
subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou
não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada. Tu dormes,
e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar.
Embora queira. À distância, permaneço te contemplando.
E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso
encontro pode acontecer inteiro. Porque tu és a única que
habita a minha solidão."
CaioFAbreu
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