sábado, 8 de outubro de 2011

CAIO FERNANDO ABREU

"...de setembro último. Era um daqueles dias
de ventania descabelada da primavera gaúcha,
e Déa Martins me convidou para ver o pôr-do-sol
na Ponta do Gasômetro, na beira do Guaíba, onde
os Oxuns se encontram. Sentamos na grama, ficamos
olhando o céu, o rio, o horizonte verde das ilhas.
(...)
O que quero dizer é que não houve mesmo nada
especialmente prévio. Nenhum aviso, nenhuma suspeita.
“Aconteceu sem um sino pra tocar”, como no poema do
príncipe Péricles Cavalcanti que Adriana Calcanhoto canta
e outro dia me fez chorar de beleza. Ríamos muito,
isso é sempre o melhor...
O vento espalhava rapidamente as nuvens pelo céu.
Dissolviam-se em fiapos primeiro brancos, depois rosa,
depois vermelho cada vez mais púrpura, até o violeta,
enquanto o Sol ia-se transformando aos poucos numa
esfera rubra suspensa..."

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