"... Mas sempre é bom poder tocar um instrumento,
não? Estou cuidando bem desse instrumento. Tem
cordas frágeis, às vezes fica calado sem mais nem
menos. Estou lendo a lírica de Camões, leio em voz alta,
com sotaque português — é tão lindo. Te mando, por
exemplo, este soneto:
“Busque amor novas partes, novo engenho
para matar-me, e novas esquivanças,
que não pode tirar-me as esperanças;
que mal me tirarão o que eu não tenho.
“Olhai que de asperezas me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes, nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido lenho.
“Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá m’esconde
amor um mal, que mata e não se vê.
“Que dias há que n’alma me tem posto um
não sei quê, que nasce não sei donde, vem não
sei como, e dói não sei porquê”.
Lindo, não? De 1500 e poucos — a edição foi póstuma,
em 1595. Já doía, naquele tempo... Tenha cuidado. Penso
com carinho em você. Pense com carinho em mim. Um beijo do
Caio F."
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