sábado, 23 de junho de 2012

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Há uma mulher na minha solidão sem lábios
que não sei se é azul ou verde
que se apaga talvez no horizonte
há uma mulher talvez na palavra solidão
que nunca se distingue da palavra
porque é a palavra mesma que não se diz
porque é a solidão que não é ela

há uma mulher nos confins da minha ausência
como uma sombra da minha ausência
como a ausência da mesma sombra

Há uma mulher nos lábios da minha solidão
que nunca chega a ser pronunciada
ou é o ar de uma sede que não respiro
ou o nada mesmo de toda a solidão

há uma mulher de musgo nas minhas pálpebras
e outra que se esconde nos olhos e é a mesma
há uma mulher de música
no meu sorriso
há uma mulher de tristeza como o tempo
na água das minhas mãos


Há tantas mulheres no meu corpo
e tantas quantas todas são uma só
ou nenhuma
ou nenhuma
e é a mesma que caminha contra o vento
em qualquer rua


António Ramos Rosa

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