sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

TRANSCRIÇÃO DA COLUNA DE JUREMIR MACHADO DO CORREIO DO POVO.

"Aeroyeda ou aerocrusius

Reis e imperadores não viviam sem as suas carruagens
particulares. Era um emblema da glória e do poder.
Não é por acaso que em toda cerimônia de posse o presidente
chega ao palácio de carroça. No fundo, a democracia republicana
requer algum ritual monárquico. Carroça de rei e de presidente é
carruagem. Só o cavalo não sabe disso. Cavalo é que nem
presidente: nunca sabe de nada. Vai em frente. Certo é que
presidentes e governadores precisam de aviões novos. Eu os
compreendo profundamente. Ainda mais em tempos de crise
financeira mundial e de pessimismo. Nada mais oportuno
do que trocar de avião quando a plebe está trocando de emprego.
Quer dizer, está trocando a condição de empregado pela de
desempregado. É estimulante. Imagino que aprimeira medida
de Barack Obama, depois de chegar de carroça àCasa Branca,
será comprar um avião novo, o aeroobama. Ou aero-obama?
Com a reforma ortográfica, convenhamos, ficou mais difícil batizar
os aviões dos nossos atribulados donos do poder. Aeroyeda
ou aerocursius? Eis a questão central. Tenho certeza de que o
magistério estadual não vai compreender a importância desse
ato renovador da governadora. Tratase de um gesto diplomático
relevante. É a primeira vez que a governadora aceita uma
sugestão do presidente da República. Ninguém mais poderá alegar
falta de diálogo entre os dois ou ausência de boa vontade da gover-
nadora com as opiniões e sugestões de Luiz Inácio. Um avião novo,
com o preço variando ligeiramente entre 8 milhões e 26 milhões
de dólares, só trará benefícios ao Rio Grande do Sul. A governa-
dora poderá chegar com muito mais rapidez às inaugurações que
fazem parte de sua rotina. Sem contar que no caso de ter de ir
a Brasília defender a prorrogação antecipada dos pedágios, em
caráter de urgência urgentíssima pelo bem de todos, a governa-
dora estará livre dos atrasos da Gol e dos sanduíches da TAM.
Não fica bem para um governante se misturar com a plebe
em voos de linha. Além de ter de comer barrinha de cereais,
a autoridade fica exposta ao contato com os eleitores. Já imagi-
naram ter de explicar a algum professor inconveniente
(existem passagens promocionais) a diferença entre o piso e
salário inicial? Ou ter de justificar que o Estado quebraria com
o salário inicial de R$ 950,00 para o magistério, mas não terá
suas contas abaladas por um mísero avião de 26 milhões de
dólares? Estou com a governadora: ter avião novo é preciso.
Eu sou totalmente a favor de avião novo. Acho que cada
governador deveria ter também uma limusine.
Não, duas: uma branca e outra preta.
Preto sempre combina. É isso: cada governador precisa de uma
limusine pretinho básico e de um jatinho básico. Tudo pela
dignidade do cargo. Quero enfatizar um aspecto: a hora é
simbolicamente oportuna. Que sensibilidade! Chego a ficar
arrepiado. Que sintonia com a população! Digo mais a gover -
nadora deve encomendar uma pesquisa interativa para definir
o nome de seu novo jato. O povo quer participar. Estou
entusiasmado. Eu ficaria com "aeroyeda". É mais ágil.
"Aerocrusius" parece piada de mau gosto. O criador do
nome escolhido ganharia uma viagem a Brasília, com a
governadora, a bordo da nova aeronave. Se tem uma
coisa inaceitável em presidente daRepública ou em
governador, de quem esperamos modernidade e com-
petência, é avião velho.Agora vai. Com avião novo o
governo decola."

TRANSCRIÇÃO NA ÍNTEGRA DA COLUNA DO
JUAREZ MACHADO DA SILVA, ESCRITA EM
16 DE JANEIRO DE 2009, SEXTA-FEIRA
NO JORNAL CORREIO DO POVO.

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