quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

TRANSCRIÇÃO DA COLUNA DE JUREMIR MACHADO NO CORREIO DO POVO.

A Encenação do "fico"
O ano de 2009 promete: a secretária estadual de Educação,
Mariza Abreu, declarou que para o bem geral do povo gaúcho
fica no posto. Ufa! O Rio Grande do Sul não sabe se chora ou
se ri. Na dúvida, fará as duas coisas ao mesmo tempo. Mariza
Abreu poderia ter virado um Jânio Quadros, que ameaçou sair
para voltar nos braços do povoe acabou desempregado. Virou
dom Pedro I. O nosso imperador por empréstimode bobo não
tinha nada. O seu "fico", lançado em 9 de janeiro de 1822, não
passou, segundo muitos historiadore, entre os quais o gaúcho
Riopardense de Macedo, de uma encenação. A frase recitada
pelo jovem Pedro fazia parte de uma jogada ensaiada: "Se é
para o bem de todos e feleicidade geral da Nação, estou pronto!
Digam ao povo que fico". Ficou e, passada a independência
do Brasil, fez tudo errado e da maneira mais autoritária pos-
sível. Pedro I ouvia pouco e falava muito. Tratou de se livrar
dos que postulavam uma monarquia mais liberal e impôs a sua
Constituição.
O "fico" de Pedro I foi dirigido a membros da elite que dese-
javam a sua permanência no Brasil, contrariando as ordens
vindas de Portugal. Esses formadores de opinião repassaram a
frase ao povo. José Clemente Pereira, o mesmo que , 20 anos
depois daria todas as condições para Caxias esmagar a Revolução
Farroupilha, foi quem orquestrou a situação e conduziu a massa.
Mariza Abreu disse que só ficaria se a sociedade lhe desse apoio.
Os comentaristas do diário oficial da província vibraram com
a sua permanência e juraram que o tal apoio foi dado.
Por quem? Não se viu um só professor, um só aluno, um só
pai ou mãe clamando pelo "fico" da mais nova encarnação de
dom Pedro I. O apoio capaz de manter a secretária no cargo
deve ter vindo das encarnações atuais dde José Clemente
Pereira. Afinal, nos tempos que correm, o magistério é o novo
vilão da novela. Os professores são a Flora do nosso Pedro I.
Se não forem controlados, acabará o déficit zero e o final feliz
sonhado pelo governo irá para o exílio.Os atrasados que se
imaginam modernos já começaram com o discurso anacrônico
da caça às bruxas. O plano milagroso da nossaPedro I consiste
em aumentar a produtividade do magistério sem lhe aumentar
ganhos. Faz sentido. Professor trabalha pouco e ganha muito.
Nada mais fácil do que segurar uma galera sossegada em escolas
tranquilas, sempre bem aparelhadas e com todo o tempo do
mundo remunerado para preparar as aulas e corrigir os trabalhos
em casa. É o que eu sempre digo: professor só cria problema.
Tem ainda a questão dos inativos. O ideal para os administrado-
res modernos é desvincular salários de ativos e inativos.
Assim, os aposentados podem chafurdar na miséria e na
defesagem salarial sem correções paternalistas.
Quem mandou não terem poupado uma boa parte dos
altos proventos auferidos quando estavam em atividade?
Nós professores, somos um bando de preguiçosos, bem pagos
e com baixa produtividade. Ameaçamos constantemente o
equilíbrio financeiro do Estado. Não damos retorno. Somos
investimento a fundo perdido. Quer dizer, não somos inves-
timento. Ainda bem que dona Pedro I vai nos outorgar uma
carta de princípios rigorosa e exemplar.
Nisso tudo, descontados os radicalismos, uma coisa é certa:
a imprensa régia ficará com Pedro I até o fim.

Escrito por Juremir Machado da Silva
em sua coluna no Correio do Povo de
13 de janeiro de 2009, terça-feira, página 3.

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