terça-feira, 1 de novembro de 2011

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Queria que algum canto do mundo me acolhesse.
E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem
de vez em quando eu perder assim a razão ou o
equilíbrio. Eu queria que existisse um canto do
mundo que nunca me dissesse "hey, você se expõe
demais" e que me deixasse ser assim e apenas me
deixasse ficar quietinha e quente quando o mundo
resolvesse me magoar, porque eu sou briguenta, mas
sou mais sensível que maria-mole na frigideira. Eu
queria ir para um planeta onde não existisse tempo
de beijar e tempo de pirar. E eu pudesse ir agora no
seu mundo e te beijar até enjoar de você. E eu
pudesse, de repente, gritar bem alto, porque me
irrita esses milhares de sons tecnológicos que você
faz. Para mostrar que meio mundo te procura
enquanto eu não posso te procurar... Eu falo o que
penso, abro as portas da minha casa, da minha vida,
da minha alma, dos meus medos. Basta eu ver um
sinal de luz recíproca no final do túnel que mando
minhas zilhões de luzes e cego todo o mundo. Sou
demais. Ninguém entende nada... E que se dane a
natureza gritando no meu ouvido que não posso
ser assim. Que a boa fêmea sabe esperar nove
meses, portanto deve saber esperar uma ligação
ou um sinal de "pode avançar no joguinho". Eu
não sei esperar nada. E a natureza gritando no
meu ouvido que então, já que sou birrenta, vou
ficar sem nada mesmo. Porque é preciso saber viver.
Atiram a gente nesse mundo, nosso coração sente
um monte de coisa desordenada, nosso cérebro
pensa um monte de absurdo. E a gente ainda precisa
ser super equilibrada para ganhar alguma coisa da
vida. Como se só por estar aqui, aturando tanta
maluquice, a gente já não devesse ganhar aí um
desconto para também ser louco de vez em quando.
Quem é essa natureza maluca, quem é esse mundo
maluco? Quem são esses doidos que exigem tanta
certeza e tanta "finesse" e tanta postura da gente? E
eu queria te beijar até enjoar. Porque eu só sei curar
uma vontade de me entorpecer de alguém quando
sugo a pessoa até a última gota.O problema é que,
nesse mundo sem graça com celulares que apitam e
mensagens no Messenger que apitam e policiais
mentais que apitam "hey, segura a onda, não deixe
ele perceber que pode comandar seu coração mole",
ninguém mais sabe nem sugar e nem ser sugado até
a última gota. Fica uma droga de um joguinho
superficial de trocas superficiais. E ai de quem resolva
sair disso. Vai ser tachado de louco de pedra. Maluco...
Queria que ao menos algum canto do mundo me
acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem,
tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou
o equilíbrio. E repetir e repetir e repetir o erro. E jurar
que da próxima vez eu serei normal. E jurar que da
próxima vez eu obedecerei a natureza... E depois chutar
todos, porque no fundo tô pouco me lixando pra essa
maioria idiota. Pode até ser meio solitário correr contra
a maré, mas como é gostoso olhar a multidão do outro
lado e enxergar todo mundo pequenininho.
Tati Bernardi

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