sexta-feira, 28 de maio de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

DEPOIS.

“Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecidoàs vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois.Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá.’”

Ana Jacomo



terça-feira, 25 de maio de 2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO.

Jacques Prévert
(tradução Silviano Santiago)


Primeiro pintar uma gaiola
com a porta aberta
pintar depois
algo de lindo
algo de simples
algo de belo
algo de útil
para o pássaro
depois dependurar a tela numa árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer...
Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir
Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
nada tendo a ver
com o sucesso do quadro
Quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
Fazer depois o desenho da árvore
escolhendo o mais belo galho
para o pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar
Se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar bom sinal
sinal de que pode assiná-lo
Então você arranca delicadamente
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro


quinta-feira, 20 de maio de 2010

JOÃO CABRAL DE MELO NETO.


Joaquim:

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia,
meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita.
O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera
meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços,
minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas.
O amor comeu a medida de meus ternos, o número
de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus
olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas,
minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas,
meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus
exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia.
Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu
no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente,
navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda,
o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios,
a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água
de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água
dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito
escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém
o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente
eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta,
cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor
roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava
os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras.
Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo,
com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos,
sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água
morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues
crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas
de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas
barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.
Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu
até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar
delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas
folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio,
os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu
o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as
futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes
em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha
noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio,
minha dor de cabeça, meu medo da morte."

(As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia
"Os Três Mal-Amados", constante do livro
"João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora
Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59. )

quarta-feira, 12 de maio de 2010

CAIO FERNANDO ABREU.

"Gosto de pessoas doces, gosto de

situações claras - e por isso,

ando cada vez mais só."





quarta-feira, 5 de maio de 2010

EU, POR CLARICE.





Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso

da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso

de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de

um olhar. Pesa como uma ausência. E a lágrima que não se chorou.

Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

- Clarice Lispector -

terça-feira, 4 de maio de 2010

E...

Quando a gente acha que já sabe todas
as respostas, vem a vida e muda todas
as perguntas...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

AO SABOR DOS SENTIDOS...



Todos os minutos do mundo pra caber mais tudo isso em mim.



sábado, 1 de maio de 2010

AO SABOR DOS SENTIDOS...


Eu poderia morrer por alguns minutos neste lugar!